sábado, 29 de maio de 2010

CULTO DE APOLO 2

Apolo com a cítara e serpente Píton. Obra romana, século II a.C., procedente do templo de Apolo em Cirene, hoje no Museu Britânico, Londres


Delfos

Algumas versões do mito dizem que desde antes da chegada de Apolo havia um oráculo instalado na encosta do Monte Parnaso, consagrado a Gaia, e cuja profetisa era Têmis ou Febe. Mais tarde ele teria passado para a presidência de Poseidon, e somente em data relativamente tardia teria sido assumido por Apolo. Essa versão é confirmada pela evidência arqueológica, havendo sido encontrados ali artefatos sacros de data tão antiga quanto c. 1600 a.C.

Tomlinson acredita que Delfos permaneceu como um santuário de âmbito apenas local até o século VI a.C., quando foi dedicado a Apolo e começou a adquirir importância, mas não há consenso entre os historiadores; De Boer & Hale, e também Malkin, fazem sua influência pan-helênica recuar para o século VIII a.C., quando ele já teria sido consultado sobre projetos de fundação de colônias distantes.

Ésquilo, que era filho de um sacerdote de Elêusis e ele mesmo um iniciado em seus Mistérios, também suportava essa visão de dedicações sucessivas, e disse que certa vez a pitonisa o havia confirmado. Diodoro Sículo disse a origem da sacralidade do lugar se deve a que certa vez um pastor foi procurar suas cabras perdidas e, entrando numa gruta, ficou inebriado com estranhos vapores e pôde ver o passado e o futuro. Relatando o fato aos seus companheiros, ergueram um altar, pois consideraram os fenômenos como sinal da presença divina, e escolheram uma virgem para assumir a função de profetisa.


Ruínas do Templo de Apolo em Delfos.

O santuário délfico mais recente, quando já era presidido por Apolo, foi construído no fim do século VI a.C., em uma série de terraços interligados por uma Via Sacra, que era usada como caminho de procissões, culminando no terraço do templo propriamente dito, uma estrutura dórica erguida a mando de Clístenes, que foi destruída por uma avalanche no século IV a.C.

Foi então reconstruído no mesmo local uma estrutura idêntica à anterior, financiado por toda a Grécia. Ao longo da Via Sacra foram com o tempo erguidas várias capelas, chamadas de tesouros, por cada cidade grega, e serviam como depósitos das oferendas para Apolo. Algumas eram ricamente ornamentadas, como os tesouros de Sifnos e de Atenas. Também foi erguido um muro em torno de toda a área, além de oratórios menores, um estádio, um teatro, casas para os sacerdotes e para as pitonisas, memoriais e outras estruturas.

Os registros históricos relatam que depois da consolidação da presença apolínea as pitonisas - profetisas cujo nome celebrava a vitória de Apolo sobre Píton - eram escolhidas entre as virgens de Delfos, e deviam ter uma reputação imaculada, permanecendo toda a vida consagradas ao deus.

Algumas parecem ter sido casadas, mas depois de assumirem sua função rompiam todos os laços familiares e perdiam sua identidade privada. No período de apogeu do oráculo as pitonisas eram de famílias distinguidas, e eram todas possuidoras de uma cultura ampla e refinada.

Eram ricas, possuindo grandes propriedades isentas de impostos, podiam assistir cerimônias profanas e usavam coroas de ouro, elementos indicativos de seu imenso prestígio. Nas fases finais de sua atividade o nível cultural e social das pitonisas decaiu muito.

As pitonisas proferiam seus oráculos em um estado de transe, sentadas sobre uma trípode que ficava sobre uma fenda rochosa no solo de onde saíam vapores subterrâneos, depois de mascarem folhas de loureiro e beberem água da fonte sagrada.

Só profetizavam nove vezes por ano, no sétimo dia após a lua nova. Aristófanes disse que quando a pitonisa proferia o oráculo o loureiro sagrado era agitado em uma encenação orgiástica, e Diodoro mencionou o sacrifício de bodes, cuja presença é documentada por moedas cunhadas em Delfos.

Essa forma de divinação não era típica de deuses solares mas era comum a outras divindades ctônicas, e isso parece indicar sua ligação com os cultos primitivos dedicados a Gaia e outras deidades da terra e do mundo subterrâneo.

Também foi sugerido que isso indica uma origem cretense ou oriental para o rito.Estudos recentes têm sugerido que certos gases tóxicos emanados de fissuras subterrâneas exatamente no local do templo podem ser uma explicação para a origem do estado alterado de consciência das pitonisas.

Elas eram assistidas por uma equipe de sacerdotes e funcionários, que organizavam o funcionamento do templo, recebiam os peregrinos e as embaixadas, interpretavam as palavras muitas vezes obscuras das pitonisas, realizavam sacrifícios e conduziam o canto de hinos e outras cerimônias.

Em anos recentes foi desenvolvida uma técnica de estimação de probalilidades e sincronismos futuros, chamada Método Delphi, inspirada pela atividade do oráculo. A técnica é usada especialmente "quando não se possuem dados em quantidade suficiente ou fidedignos para que se possa fazer uma extrapolação ou, ainda, quando existem expectativas de mudanças estruturais nos fatores determinantes do desencadeamento futuro".

Delfos era considerada o centro do mundo e o umbigo da Terra estava dentro do templo, simbolizado pela pedra do ônfalo (umbigo). Desta forma Delfos era uma imagem de estabilidade numa cultura definida por um aglomerado de cidades e grupos étnicos independentes, e estruturava toda a cosmografia grega num plano de círculos concêntricos de graus decrescentes de civilização que era reproduzido em escala menor em cada pólis.

Os gregos viviam no círculo central, e para eles além viviam os estrangeiros, seguidos pelos bárbaros, os selvagens e finalmente os monstros. Envolvendo o mundo conhecido havia um círculo cósmico formado pelas águas infinitas do oceano, de onde se originavam os quatro ventos e onde residiam os povos míticos.

A cada inverno Apolo viajava até os país dos Hiperbóreos, que segundo algumas lendas haviam ajudado o deus na fundação de Delfos, um povo eterno e não sujeito aos males da humanidade e que Heródoto considerava todo composto por sacerdotes de Apolo. Esta peregrinação mítica era um símbolo da sucessão das estações, regidas pelo deus através do deslocamento aparente da posição do sol no céu ao longo do ano, e criava um elo entre o mundo dos homens e as forças dos mundos superiores.

O Oráculo de Delfos se tornou o grande árbitro e legislador de toda a Grécia. Não tomava a iniciativa de impor regras ou políticas, mas quando surgia alguma questão delicada as cidades frequentemente o consultavam, para resolver disputas e guerras, quando desejavam criar legislação ou fundar colônias, e quando precisavam instrução sobre saúde e bem-estar coletivos na emergência de pragas e outras calamidades, quando o deus informava sobre os ritos purificatórios e sacrifícios necessários para afastar o mal.

Também impunha penalidades para maus governantes e regulava os requisitos para admissão em cargos públicos. Suas decisões eram geralmente acatadas, e quando não o eram, desastres imprevistos podiam suceder.

O oráculo adquiriu tamanha autoridade e o respeito de todos os gregos não apenas porque era a voz de um deus, mas porque conseguiu se manter relativamente neutro em todos os conflitos públicos que administrou.

Para os indivíduos, suas respostas incentivavam a reflexão e o auto-exame. O santuário permaneceu em atividade ao longo dos períodos helenista e romano, e o oráculo foi consultado e respeitado até o século II d.C., mas com a progressiva penetração do cristianismo caiu em abandono.

Foram feitas algumas tentativas de restaurá-lo, mas com a conversão do Império Romano ao cristianismo elas perderam o sentido. O imperador Juliano, o Apóstata, tentou revitalizá-lo em torno de 360 d.C. quanto quis restaurar o Paganismo no império, mas então o próprio oráculo falou aos enviados imperiais: "Digam ao imperador que minha casa ruiu até o alicerce. Apolo já não mora aqui, nem a luz de sua profecia, e a água de sua fonte secou".


A maior festividade em Delfos era os Jogos Píticos, celebrados a cada quatro anos em honra a Apolo, Leto e Ártemis, e segundo a lenda haviam sido instituídos pelo próprio Apolo. Era uma das maiores celebrações pan-helênicas, incluía competições atléticas, teatrais, poéticas e musicais, e também se faziam concursos de pintura e escultura.

As competições artísticas eram as mais importantes, e em certos períodos parece que os jogos atléticos foram suprimidos. As festividades duravam vários dias e atraíam muitos estrangeiros, e todas as cidades gregas enviavam oferendas para Apolo.

Não sobrevivem relatos detalhados sobre os Jogos Píticos, mas se presume que tenham sido acompanhados também de procissões, sacrifícios e purificações públicas, como nos outros Jogos.

Seus vencedores recebiam como prêmio um barrete feito de folhas de loureiro, junto com um ramo de palmeira, e eram eternizados com a ereção de uma estátua sua. A celebração dos Jogos Píticos perdurou enquanto o oráculo esteve em atividade. Outras cidades da Grécia, onde havia culto de Apolo, também instituíram pequenos Jogos Píticos.

Sobrevivem duas peças de música dedicadas ao Apolo Délfico, dois hinos encontrados em inscrições em pedra no santuário, mas não se sabe como eram executados. A transcrição da notação musical grega ainda tem muitas incógnitas, além disso estão em forma fragmentária, e a reconstrução de que se dispõe hoje das melodias é conjetural.

De qualquer forma estão entre as mais antigas partituras conhecidas no ocidente. O primeiro hino foi escrito por um ateniense anônimo em torno de 138 a.C., e foi descoberto em 1893 por Pierre de Coubertin. O segundo hino foi composto por Limenios, em torno de 128 a.C


Aline Santos é Jornalista,Terapeuta Holística,Taróloga, Cabalista, Professora, Educadora Patrimonial, Escritora, Palestrante, e Pesquisadora de Ciências Ocultas, e atende nas áreas de Florais de Bach, Fitoterapia, Aromaterapia, Terapia com cristais, Reiki, Cura Prânica e Tarô Terapêutico.
E-MAIL: arcanjo.azul@hotmail.com

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