sexta-feira, 2 de julho de 2010

Herói trágico

Clive Owen como Rei Arthur

Um herói trágico é o personagem principal de uma tragédia. O uso moderno do termo geralmente envolve a noção de que o herói cometeu um erro em suas ações, o que leva à sua queda. A idéia de que este seja um equilíbrio entre crime e castigo é incorretamente atribuída a Aristóteles, que é bastante claro em seu pronunciamento que o infortúnio do herói não é provocado "por vício e depravação, mas por algum erro de julgamento". Na verdade, na Poética de Aristóteles, é imperativo que o herói trágico seja nobre.

Heróis trágicos aparecem na obra dramática de Ésquilo, Sófocles, Eurípides, Sêneca, Marlowe, Shakespeare, Webster, Marston, Corneille, Racine, Goethe, Schiller, Kleist, Strindberg, e muitos outros escritores.

Traços Comuns
Alguns traços comuns dos personagens trágicos:

A falha mais freqüentemente (especialmente nos dramas gregos) é o orgulho.
O herói descobre que sua queda é resultado de suas próprias ações, não por causa dos acontecimentos.
O herói vê e entende o seu castigo, e que seu destino foi definido por suas próprias ações.
A queda do herói é entendida por Aristóteles em sua Poética como um despertar da piedade e do medo que leva a uma epifania e uma catarse (de herói e do público.)

Não é necessário pelo padrão aristotélico de que a queda ou o sofrimento levem a morte ou ruína total, como no mito de Hércules, que finalmente sobe ao Monte Olimpo e torna-se imortal. No entanto, desde pelo menos a época de William Shakespeare, tem sido, geralmente, considerado, que a falha de um herói trágico necessariamente deve resultar na sua morte, ou num destino pior. O herói trágico de Shakespeare morre em algum momento na história, um exemplo é o protagonista de mesmo nome da peça Macbeth. Personagens de Shakespeare, mostram que o herói trágico não é totalmente bom nem totalmente mal.
Um herói trágico é, muitas vezes nobre, ou descendente de nobres (Rei Arthur ).
O herói aprende alguma coisa com seu erro.
O herói é confrontado com uma decisão séria.
O sofrimento do herói é significativo, porque, embora o sofrimento seja o resultado da própria vontade do herói, não é inteiramente merecida e pode ser cruelmente desproporcional.
Pode haver envolvimento sobrenatural (em Shakespeare, Júlio César, César é avisado de sua morte através de visão Calpurnia e Brutus é avisado de sua morte iminente pelo fantasma de César).
O herói arquetípico das tragédias clássicas é, quase universalmente, do sexo masculino. Tragédias posteriores (como Antônio e Cleópatra de Shakespeare) apresenta o herói trágico do sexo feminino. Retratos de mulheres heróis trágicos são notáveis, por serem raros.


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Aline Santos é Jornalista,Terapeuta Holística,Taróloga, Cabalista, Professora, Educadora Patrimonial, Escritora, Palestrante, e Pesquisadora de Ciências Ocultas, e atende nas áreas de Florais de Bach, Fitoterapia, Aromaterapia, Terapia com cristais, Reiki, Cura Prânica e Tarô Terapêutico.
E-MAIL: arcanjo.azul@hotmail.com

Anti-herói


Hayden Christensen como Anakin Skywalker em Star Wars

Anti-herói é o termo que se emprega para alguém que protagoniza atitudes referentes às do herói clássico, mas que não possuem vocação heróica ou que realizam as façanhas por motivos egoístas, de vaidade ou de quaisquer gêneros que não sejam altruístas.

Origem
Não existe um momento definitivo, quando o anti-herói surgiu como um elemento literário.

O anti-herói tem evoluído ao longo do tempo, mudando como as concepções da sociedade sobre o herói mudaram, desde os tempos Elizabetanos de Fausto e Falstaff de William Shakespeare, para o mais sombrios temas da literatura vitoriana do século XIX, como a "Ópera dos Mendigos" de John Gay como um homem tímido, passivo e indeciso que contrasta fortemente com os heróis gregos. O herói byroniano também estabelece um precedente literário para o conceito moderno de anti-heroismo.

O herói byroniano é um anti-herói rebelde é simpático, apesar de sua rejeição da virtude.

São personagens não inerentemente maus e que, às vezes, até praticam atos moralmente aprováveis. Contudo, algumas vezes é difícil traçar a linha que separa o anti-herói do vilão; no entanto, note-se que o anti-herói, diferente do vilão, sempre obtém aprovação, seja através de seu carisma, seja por meio de seus objetivos muitas vezes justos ou ao menos compreensíveis, o que jamais os torna lícitos. A malandragem, por exemplo, é uma ferramenta tipicamente anti-heróica.

Distinção entre Anti-herói e Herói Trágico

Um anti-herói difere de um herói trágico por este ainda ser essencialmente heróico, mas com uma grande falha trágica, no anti-herói, as falhas são mais visíveis do que as suas qualidades heróicas.

Há mais de um tipo de anti-herói. Além dos que buscam satisfazer seus próprios interesses, há também os que sofrem desapontamentos em suas vidas, mas persistem até alcançar o ato heróico. Ainda há o tipo de anti-herói que está próximo do herói, mas segue a filosofia de que "o fim justifica os meios". Esse último é bem popular nas histórias em quadrinhos.
Existem também anti-heróis que têm atitudes morais suficientes para serem heróis, mas não têm o condicionamento físico e/ou intelectual suficientes, só que não percebem ou se preocupam com esse fato.

Um exemplo que não podemos esquecer é:

Dom Quixote: Motivado pela loucura pensava ser um cavaleiro. Demonstrava arrogância e procurava sempre confusões com pessoas do povo para ilustrar suas aventuras e saciar sua sandice.

Esta é uma lista de anti-heróis, personagens de filmes, quadrinhos, animes, mangás, games e outros:

Adaga
Adão Negro
Anakin Skywalker
Batman
Bizarro
Blade
Camus de Aquário
Dante
Darkwing Duck
Elektra
Eric Draven - (O Corvo, interpretado por Brandon Lee);.
Frank Castle
Gambit
Gata Negra
Hulk
Ikki de Fênix
Iori Yagami
Jack Sparrow
John Constantine
Justiceiro(Frank Castle)
Kanon de Gêmeos
Macunaíma
Magneto
Motoqueiro Fantasma
Mulher-Gato (Selina Kyle)
Namor
Patolino
Peter Pan
Piccolo
Questão
Red Sonja
Riddick
Robin Hood
Saga de Gêmeos
Severo Snape
Shadow
Sirius Black
Spawn
Scorpion;
Uchiha Sasuke
Vegeta
Venom
Vincent Valentine;
V de Vingança;
Wolverine
Yusuke Urameshi


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Aline Santos é Jornalista,Terapeuta Holística,Taróloga, Cabalista, Professora, Educadora Patrimonial, Escritora, Palestrante, e Pesquisadora de Ciências Ocultas, e atende nas áreas de Florais de Bach, Fitoterapia, Aromaterapia, Terapia com cristais, Reiki, Cura Prânica e Tarô Terapêutico.
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Herói

Brad Pitt como Aquiles Héroi de Tróia


Herói é uma figura arquetípica que reúne em si os atributos necessários para superar de forma excepcional um determinado problema de dimensão épica. Do grego ‘hrvV, pelo latim heros, o termo herói designa originalmente o protagonista de uma obra narrativa ou dramática.

Para os Gregos, o herói situa-se na posição intermédia entre os deuses e os homens, sendo, em geral filho de um deus e uma mortal (Hércules, Perseu), ou vice-versa (Aquiles). Portanto, o herói tem dimensão semi-divina.

Variando consoante as épocas, as correntes estético-literárias, os gêneros e subgêneros, o herói é marcado por uma projeção ambígua: por um lado, representa a condição humana, na sua complexidade psicológica, social e ética; por outro, transcende a mesma condição, na medida em que representa facetas e virtudes que o homem comum não consegue mas gostaria de atingir fé, coragem, força de vontade, determinação, paciência, etc. O heroísmo que resulta em auto sacrifício chama-se martírio.

O herói será tipicamente guiado por ideais nobres e altruístas – liberdade, fraternidade, sacrifício, coragem, justiça, moral, paz.
Eventualmente buscará objetivos supostamente egoístas (vingança, por exemplo); no entanto, suas motivações serão sempre moralmente justas ou eticamente aprováveis, mesmo que ilícitas. Aqui é preciso observar que o heroísmo caracteriza-se principalmente por ser um ato moral.

Existem casos em que indivíduos sem vocação heróica protagonizam atitudes dignas do herói. Há também aqueles em que os indivíduos demonstram virtudes heróicas para realizar façanhas de natureza egoísta, motivados por vaidade, orgulho, ganância, ódio, etc.

É o caso dos caçadores de fortuna (piratas, mercenários, etc). Tais exceções não impedem de serem admirados como heróis; no entanto, serão melhor representados no arquétipo do anti-herói.
Através das histórias e quadrinhos, do cinema e de outras mídias, a cultura de massa popularizou a figura do ’’super-herói’’, que são indivíduos dotados de atributos físicos extraordinários como corpo à prova de balas, capacidade de voar, etc. Merecem explicação à parte (vide super-herói).

Inspiração heróica

O heroísmo é um fato profundamente arraigado no imaginário e na moralidade popular. Feitos de coragem e superação inspiram modelos e exemplos em diversos povos e diferentes culturas, constituindo assim figuras arquetípicas. Situações de guerra, de conflito e de competição são ideais para se realizar feitos considerados heróicos.

A inspiração heróica surge muitas vezes a partir da problemática imposta por um ambiente ou situação adversa, cuja solução exija um feito grandioso ou um esforço extraordinário.
A França dominada pela Inglaterra, por exemplo, fez surgir uma Joana d’Arc. A inspiração heróica surge também de uma necessidade nata de aceitar um desafio que pareça atraente. É o caso de Teseu, personagem da mitologia grega, cujos atos heróicos foram inspirados pelo desejo de ser tão conhecido e admirado quanto seu ídolo Hércules.

Há ainda a ocasião em que indivíduos de qualidades ordinárias confrontarão situações que exijam dele feitos heróicos. Pode-se citar como exemplo o caso de Orestes, personagem da mitologia grega. Ainda que não tenha nenhum atributo heróico, Orestes é moralmente obrigado pelo deus Apolo a vingar o pai Agamemnon, assassinado por Clitemnestra e o amante dela.

O mesmo tema está presente na peça Hamlet, escrita por William Shakespeare.
A exemplo da moral, a inspiração heróica também é relativa. Em uma sociedade voltada para a guerra, o herói será o indivíduo que pratica proezas em nome do conflito. O guerreiro Aquiles, por exemplo, é um herói.

Para uma cultura voltada para a paz, esse mesmo indivíduo poderá ser repudiado como herói. Dependendo da inspiração, a mesma cultura poderá conceder ou remover o status de herói de um indivíduo que a ela pertence.
O caso de Aquiles é bastante especial, quando se trata na sua relação heróica de ser. Ele representa um herói em conflito, pois é um herói sem hybris(sem medida, transcrição latina), mas é ao mesmo temo um belo candidato à bela morte, de acordo com Vernant, pois é belo, guerreiro e jovem. Já ao contrário, Heitor é o modelo de herói perfeito, pois é o agathós (bom e justo) e controla as suas atitudes, ao contrário de Aquiles.

Heróis históricos

Diversas situações históricas foram capazes de inspirar heroísmos, e muitos personagens das artes e do imaginário popular são baseados nestes heróis. Muitas vezes constituem personagens cuja vida é baseada em uma pessoa que realmente existiu. Ao herói são atribuídos grandes feitos, e por vezes ele aparece como o fundador de uma cultura.
Os diferentes movimentos culturais (literários, artísticos)inspiraram diversas atitudes heróicas ou serviram de pano de fundo para manifestos populares cujos líderes foram considerados heróis pelo povo, embora tenham sido duramente represados pelas minorias representantes do poder.

Alguns heróis históricos:

Hércules, Aquiles, Perseu Teseu,Odisseu (Ulisses) heróis da mitologia grega;
Gilgamesh, herói da mitologia suméria
Romulo e Remo, fundadores de Roma
Heitor, príncipe de Tróia
Rei Arthur, Sir Lancelot das lendas arthurianas
Eduardo Mondlane, herói moçambicano;
Pier Gerlofs Donia, herói frísio;
Tiradentes, herói brasileiro;
Viriato, dirigente lendário dos Lusitanos e resistente à ocupação romana.

Referência:
Joseph Campbell, O herói de mil faces. Editora Cultrix, São Paulo SP.


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Gilgamesh

Você sabe qual foi a primeira história registrada na forma escrita? Engana-se quem acha que foi A odisséia de Homero. Segundo arqueólogos, a epopéia de Gilgamesh é a obra mais antiga de todo o planeta.
Foi escrita em sumério cerca de 2.600 a. C. Os sumérios foram os mais antigos habitantes da Mesopotâmia e inventaram a escrita cuneiforme (em forma de cunha). O texto foi encontrado entre 669-626 d.C. na biblioteca de Assurbanipal em sua versão Assíria. Consta de 12 tabuletas, sendo que a última foi retirada de várias traduções por razões lingüísticas e arqueológicas.

O texto conta as aventuras do histórico rei de Uruk: Gilgamesh, "Sha nagb imuru" ou "aquele que tudo viu". O rei é um herói, um ser superior:

"Dois terços dele são deus, um terço dele é humano. Seu corpo é perfeito, os deuses o completaram. E sua mãe, Ninsun, ainda o dotou de beleza. (...) No recinto de Uruk ele vivia (...) com força tão grande como a de um boi selvagem" (Os trechos entre parenteses com reticências são trechos em que as tabuletas não puderam ser traduzidas).

Gilgamesh precisa enfrentar um ser feito à sua réplica, Enkidu. Ele é o deus da vegetação, um humano sem a marca da humanização. Após uma luta de força, tornam-se amigos e viajam enfrentando perigos e vivendo várias aventuras.

A epopéia é uma obra que tem como objeto o homem superior. É feita em verso e forma narrativa. A métrica, de verso heróico, é construída com vocábulos raros e metafóricos. Não há limite de tempo, ao contrário da tragédia. A estrutura é composta pelo reconhecimento, as peripécias e as catástrofes.

Os estudos mostram que a obra é na realidade um mito que foi transmitido por via oral e que era conhecido desde o sul da Babilônia até a Ásia menor.

A Epopéia de Gilgamesh aqui no Brasil pode ser lida pela versão da Editora Martins Fontes. Vale a pena não só pela aventura, mas pela viagem fascinante ao mundo dos grandes deuses pagãos.

O personagem Gilgamesh foi um dos reis sumérios que governaram após o dilúvio. Segundo o mito, era 2/3 deus e 1/3 humano, e foi autor de grandes feitos sobre-humanos, sendo que se livrou de algumas armadilhas causadas por eventos fantásticos e divinos. Seu personagem lembra muito o mitológico [Hércules], herói greco-romano (na Grécia era chamado de Héracles), sendo extremamente forte, o mais poderoso da Terra. O mito também possuiu um paralelo bíblico conhecido como Nimrod (ou Ninrode). Um pedaço de sua vida é descrito em um épico sumério que é considerado a mais antiga narrativa escrita pela humanidade, a Epopéia de Gilgamesh.

Enkidu

Enkidu ou Enquidu ("criação de Enki") é uma figura central do antigo épico mesopotâmico conhecido como Epopéia de Gilgamesh.
Fontes mais antigas transliteraram seu nome como Enkimdu, Eabani ou Enkita.
Foi criado pelos deuses com o fim de contrabalançar o poder de Gilgamesh quando do seu abuso de poder.

Os deuses tramam um plano para roubar de Gilgamesh sua autoridade e dominação. Nas planices incultas eles colocam um homem cabeludo e selvagem, Enkidu. Como os animais, ele pastava e perambulava com eles. Enkidu é visto por um caçador (será ele da raça dos deuses?) no poço onde os animais iam beber água.

Gilgamesh é informado e faz um plano para capturar o selvagem homem-animal. Envia uma "herem", prostituta sagrada consagrada à deusa, ao local do poço com o caçador. Ao alcançarem Enkidu, o caçador obriga a mulher a tirar as roupas, deixando à mostra sua nudez madura.

"Ela abriu completamente as vestes, expondo seus encantos e entregando-se aos abraços dele". Durante seis dias e sete noites ela gratificou-lhe os desejos e o alimentou com pão e cerveja, até que sua vida selvagem foi completamente vencida.

Na história Enkidu é um homem selvagem, criado por animais e ignorante dos costumes humanos até conhecer e se deitar com Shamhat. Após o fato uma série de interações suas com os humanos o torna mais próximo à civilização, e eventualmente acaba disputando uma partida de luta com Gilgamesh, rei de Uruk; Enkidu então se torna o companheiro fiel do rei, acompanhando-o em aventuras até padecer com uma doença que o leva à morte. A perda trágica de Enkidu emociona profundamente Gilgamesh, e o inspira a iniciar uma empreitada em busca da obtenção da imortalidade divina.

Após a morte de seu melhor amigo e parceiro de aventura, Enkidu, o que moveu Gilgamesh pelo resto de sua vida foi a busca da imortalidade. O mito de Gilgamesh relaciona-se à busca desesperada por algo (a vida eterna) que lhe foi negado em seu nascimento. Em sua procura, vai atrás do único sobrevivente do dilúvio, Utnapishtim que recebeu a imortalidade, que tem uma história parecida com a do Noé bíblico, quem disseram-lhe poderia ter o segredo da vida eterna, por motivos óbvios. Assim, ele abandona sua vida para buscar, sem sucesso, a vida eterna.

Quem foi Gilgamesh?
Gilgamesh foi um rei e herói legendário, da cidade estado de Uruk, na Mesopotamia, região onde onde se encontra o Iraque.

De acordo com a lista dos reis sumérios, Gilgamesh foi o quinto rei de Uruk, da primeira Dinastia, filho de Lugalbanda. Diz a lenda que sua mãe era Ninsun, uma deusa Suméria.

Baseado em antigas lendas, o Épico de Gilgamesh é originário da Babilônia, datando de muito tempo depois da época em que o rei teria reinado. Costumava ser passado adiante apenas por tradição oral. A versão mais completa deste épico preservou-se em doze tabletes de barro, na coleção do século VII a.C. do rei assírio Assurbanipal. É considerado a mais antiga história jamais contada, trata-se da mais antiga publicação escrita conhecida da humanidade.

Uruk era uma das mais antigas e importantes cidades da Suméria, hoje chamada Warka, e no Antigo testamento Erech, situada a leste do atual leito do Eufrates. O nome moderno de Iraque possivelmente se deriva do nome Uruk.

Desde aí, Gilgamesh tem inspirado muitas outras histórias e escritores.

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Epopéia de Gilgamesh - Tabuinha da Epopéia de Gilgamesh descrevendo o dilúvio em acádio

A Epopéia de Gilgamesh ou Épico de Gilgamesh é um antigo poema épico da Mesopotâmia (atual Iraque), uma das primeiras obras conhecidas da literatura mundial. Acredita-se que sua origem sejam diversas lendas e poemas sumérios sobre o mitológico semi-deus herói Gilgamesh, que foram reunidos numa biblioteca compilada no século VII a.C. pelo rei Assurbanipal. Recebeu originalmente o título de Aquele que Viu a Profundeza (Sha naqba īmuru) ou Aquele que se Eleva Sobre Todos os Outros Reis (Shūtur eli sharrī). Gilgamesh provavelmente foi um monarca real, durante o fim do segundo período dinástico inicial (por volta do século XXVII a.C.).[1]

A sua história gira em torno da relação entre Gilgamesh e seu companheiro íntimo, Enkidu, um homem selvagem criado pelos deuses como um equivalente de Gilgamesh, para que o distraísse e evitasse que ele oprimisse os cidadãos de Uruk. Juntos passam por diversas missões, que acabam por descontentar os deuses; primeiro vão às Montanhas do Cedro, onde derrotam Humababa, seu monstruoso guardião, e depois matam o Touro dos Céus, que a deusa Ishtar havia mandado para punir Gilgamesh por não ceder às suas investidas amorosas.

A parte final do épico é centrada na reação de transtorno de Gilgamesh à morte de Enkidu, que acaba por tomar a forma da uma busca pela imortalidade. Gilgamesh tenta conhecer o segredo da vida eterna, passando por uma longa e perigosa jornada para conhecer o herói imortal do dilúvio, Utnapishti. O herói ouve então as pungentes palavras, presságio do resultado final de sua busca: "A vida que você procura nunca encontrará. Quando os deuses criaram o homem, reservaram-lhe a morte, porém mantiveram a vida para sua própria posse." Gilgamesh, no entanto, foi celebrado posteriormente pelas construções que realizou, e por ter trazido de volta o conhecimento de diversos cultos para Uruk, após seu encontro com Utnapishti. A história é conhecida por todo o mundo, em diversas traduções, e seu protagonista, Gilgamesh, se tornou um ícone da cultura popular.

Seu registro mais completo provém de uma tábua de argila escrita em língua acádia do século VIII a.C. pertencente ao rei Assurbanipal, tendo sido no entanto encontradas tábuas com excertos que datam do século XX a.C., sendo assim o mais antigo texto literário conhecido, e seria o equivalente mesopotâmico a história de Noé.

A primeira tradução moderna foi realizada na década de 1860 pelo estudioso inglês George Smith.

Esta epopéia contém a mais antiga referência conhecida ao dilúvio, que é recorrente em várias culturas e que está presente na Bíblia. Esse registro, herdado por tradição oral dos tempos pré-históricos, de acordo com algumas teorias, terá tido a sua origem no final da última era glacial. Outras teorias dizem que foi um tombamento do eixo planetário, causado ou pela gravidade de um meteoro que passou perto da terra durante a época ou pela inversão do polo magnético da terra que acontece de tempos em tempos.

A primeira tradução feita a partir do original para o português foi feita pelo Professor Emanuel Bouzon da PUC-Rio.

Versões de fragmentos atuais desenterrados pela arqueologia atestam entre outras histórias a lenda de dois seres que se amaram, Isa e Ani, geraram uma filha, Be. Porém Ani esteve na floresta de Humbaba procurando por Isa, e dizem que por algum motivo nunca mais se viram. As inscrições em cuneiforme (principalmente o Assírio) atestam que ele nunca desistiu de procurar Isa, e este casal é o fundador do amor mesopotâmico.

Referências
1. Gilgamesh (trad. da versão Sin-Leq-Unninnt para o inglês por John Gardner and John Maier, c/ Robert Henshaw), ISBN 0-394-74089-0, p.4
Bibliografia
Gilgamesh, Tradução de Pedro Tamen, Lisboa, Nova Vega, 2007.

Aline Santos é Jornalista,Terapeuta Holística,Taróloga, Cabalista, Professora, Educadora Patrimonial, Escritora, Palestrante, e Pesquisadora de Ciências Ocultas, e atende nas áreas de Florais de Bach, Fitoterapia, Aromaterapia, Terapia com cristais, Reiki, Cura Prânica e Tarô Terapêutico.
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quinta-feira, 1 de julho de 2010

A INFLUÊNCIA DA EPOPÉIA DE GILGAMESH NA ESCRITA DO GÊNESIS

“O passado das civilizações nada mais é que a história dos empréstimos que elas fizeram umas às outras ao longo dos séculos ...”

FERNAND BRAUDEL

1. Da “corrida ao ouro bíblico” à nova historicidade das sagradas escrituras.

Em meados do século XIX, após a descoberta na antiga cidade de Nínive da biblioteca do imperador assírio Assurbanípal (668-627 a.C.), o mundo redescobriu as antigas grandes civilizações da Mesopotâmia em tábuas de argila contendo escritos em sinais mais tarde denominados cuneiformes. Civilizações estas de que até então, o pouco que se conhecia estava contido nos livros da Bíblia, em informações “escassas e pouco reveladoras, uma vez que estavam diretamente relacionadas com a história do povo hebreu”.(CORREA, 200-, p. 2).

Tais descobertas deram início a uma espécie de “corrida ao ouro bíblico” que propunha evidenciar arqueológicamente as sagradas escrituras. Outras ruínas então, como as de Uruk, Ur e Nipur, começaram ser escavadas e revelaram mais inscrições sobre o passado do Oriente Próximo.

Detalhe das escavações em Ur
O trabalho de decifração destas tábuas foi realizado por vários pesquisadores, mas coube ao arqueólogo britânico George Smith, a primeira tradução contendo um trecho da Epopéia de Gilgamesh: o relato do dilúvio. Em 1872, Smith anuncia sua descoberta1 em um encontro da Sociedade de Arqueologia Bíblica causando um “forte impacto na Europa (...) por apresentar um texto pagão aparentemente antecipando a Arca de Noé”.(CORREA, 200-, p. 2).

Estas descobertas abalaram toda a comunidade científica e religiosa do século XIX, laicizando muitos dos objetivos iniciais, modificando métodos dos pesquisadores, e abrindo precedentes para o questionamento da veracidade dos textos bíblicos.

Nas últimas quatro décadas, diferentes estudos estão sendo realizados sobre os temas levantados no século XIX, tanto pela comunidade científica como em grande parte pela comunidade religiosa, fazendo com que sejam discutidos os elementos mitológicos presentes na confecção dos livros que compõe o Pentateuco (2), que vão desde a formação do mundo à existência histórica dos seus patriarcas.
Tábua IX da Epopéia do Dilúvio

Há uma tentativa, nos dias atuais, por parte de arqueólogos e historiadores de remontar a bíblia separando o que é história do que são mitos e lendas.

"Apesar das paixões suscitadas por este tema, nós acreditamos que uma reavaliação dos achados das escavações mais antigas e as contínuas descobertas feitas pelas novas escavações deixaram claro que os estudiosos devem agora abordar os problemas das origens bíblicas e da antiga sociedade israelita de uma nova perspectiva, completamente diferente da anterior. (…) A história do antigo Israel e o nascimento de suas escrituras sagradas a partir de uma nova perspectiva, uma perspectiva arqueológica.” (FINKELSTEIN; SILBERMAN, 2001, pp. V-VI, p. 1).

2. Da teogonia à teofania.

Paralelamente às discussões bíblicas, as descobertas feitas pelas escavações remontam os três milênios que antecedem à Cristo, onde a região entre os rio Tigre e Eufrates viu a ascensão e queda de grandes civilizações como os sumérios, acádios, assírios e babilônicos.

Dos textos traduzidos, vários deles incompletos devido ao estado de conservação dos mesmos, pôde-se extrair muito da filosofia e da mitologia mesopotâmicas, onde podemos observar que “o Oriente antigo, antes da Bíblia, e mesmo abstraindo-se dela, não desconhecia a reflexão sobre o homem. (...) As questões fundamentais da existência, da felicidade e da infelicidade, da relação com as potências cósmicas e com o domínio misterioso dos deuses, do sentido da vida e das incertezas do destino, já tinham neles um lugar de grande importância”.(GRELOT, 1980, p. 13).

Neste universo de descobertas, os sumérios e os acadianos revelam-se fornecedores de costumes, rituais e modelos literários a todos os povos do Oriente Médio (3). Suas lendas, se consideradas como o primeiro repositório das recordações históricas dos povos do oriente antigo, “se transformaram, se esquematizaram, se reagruparam, mudaram eventualmente de país, se ampliaram, às vezes, desmedidamente” (GRELOT, 1980, p. 13), onde cada cultura apropriou-se de um mito conforme a sua ótica4.

Não diferente desta regra, os israelitas inovaram ao excluir todo um panteão, centralizando sua fé num deus único, propondo uma desmitização do universo transformando as forças cósmicas ao que de fato são. A situação do homem diante de Deus modifica-se totalmente, “embora, na prática, a adaptação da mentalidade corrente dos israelitas a essa mudança radical se tenha processado lentamente e com dificuldade” (GRELOT, 1980, p. 15), mantendo grande parte do antigo modo de expressar religioso herdado dos sumérios e acádios.

Desta forma, Israel começa a escrever sua própria história, ora compilando fatos de seu próprio povo em grandiosas lendas, ora adaptando mitos antigos à sua realidade e aos seus propósitos. As histórias contidas na parte hebraica da bíblia, embora difíceis de serem datadas pelos anacronismos que ali apresentam (5), foram compiladas e ordenadas “principalmente, no tempo do rei Josias (640-609 a.C.), para oferecer uma legitimação ideológica para ambições políticas e reformas religiosas específicas”.(FINKELSTEIN; SILBERMAN, 2001, p. 14).

3. A Epopéia de Gilgamesh e sua influência sobre demais literaturas do mundo antigo.

Considerada a mais antiga obra literária da humanidade, a Epopéia de Gilgamesh na sua forma “tardia” (século VII a.C.) como é difundida no Ocidente (TIGAY (6) citado por ZILBERMAN (1998, p. 58)), não foge à regra das obras de origens mesopotâmicas: um compilado de lendas e poemas, cuja origem e veracidade perdem-se na difusão oral, adaptação cultural e textos fragmentados.

As narrativas contidas na epopéia deviam ser muito populares em sua época, pois são encontradas em várias versões escritas por vários povos e línguas diferentes, sendo que as primeiras versões da mesma, datam do Período Babilônico Antigo (2000-1600 a.C.), podendo ter surgido muito antes (7), pois o herói desta epopéia é o lendário rei sumério Gilgamesh, quinto rei da primeira dinastia pós-diluviana de Uruk, que teria vivido no período protodinástico II (2750-2600 a.C.)(8).

Devido à sua antiguidade e originalidade, muito se especula sobre a influência desta sobre textos mais difundidos e conhecidos pela humanidade, como os poemas épicos gregos Ilíada e Odisséia de Homero, escritos entre VIII e VII a.C.. Mas a polêmica é maior quando se comparados às narrativas do Pentateuco, a parte mais antiga do Velho Testamento, datadas do Primeiro Milênio a.C.. No caso desta última, o que legitima-nos a observar as influências, além de semelhanças impressionantes, o próprio contexto histórico e geográfico. Contexto este em que a origem dos hebreus e das grandes civilizações semitas são mescladas com a própria história do povo sumério. Históricos períodos de cativeiro, onde a aculturação era, além de inevitável pelas circunstâncias de sobrevivência, uma forma de dominação ideológica:


Representação de Gilgamesh

“O povo dominado era absorvido pelos nativos ao serem levados, havia a destruição total da nacionalidade, do culto, das instituições, nada ficando que pudesse ser lembrado a fim de que jamais alguém se encorajasse a agir em favor de uma reconstrução. Todo o elemento que representasse qualquer valor moral ou intelectual era desterrado e em seu lugar era posto outro povo trazido de outras regiões.” (LOPES, 200-, p. 2).

4. A semelhança entre as narrações.

As semelhanças narrativas encontradas entre Epopéia de Gilgamesh e o Livro do Gênesis iniciam-se logo nos primeiros versículos da bíblia, ou seja, na criação do homem. O povo de Uruk, descontente com a arrogância e luxúria do rei Gilgamesh, exige dos seus deuses a criação de um homem que fosse o reflexo do rei, e tão poderoso quanto ele para que pudesse enfrentá-lo e redimi-lo. O deus Anu, ouvindo o lamento da população, ordenou a Aruru, deusa da criação, que fizesse Enkidu:

“A deusa então concebeu em sua mente uma imagem cuja essência era a mesma de Anu, o deus do firmamento. Ela mergulhou as mãos na água e tomou um pedaço de barro; ela o deixou cair na selva, e assim foi criado o nobre Enkidu”.(SANDARS, 1992, p. 94).

“Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”.(GENESIS, cap. 1, ver. 26).

“Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”.(GENESIS, cap. 2, ver. 7).

Enkidu foi criado inocente, longe da malícia da civilização, vivendo entre as criaturas selvagens e compartilhando a natureza com elas:

“Ele era inocente a respeito do homem e nada conhecia do cultivo da terra. Enkidu comia grama nas colinas junto com as gazelas e rondava os poços de água com os animais da floresta; junto com os rebanhos de animais de caça, ele se alegrava com a água”.(SANDARS, 1992, p. 94).

“Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra, e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento. E a todos os animais da terra e a todas as aves dos céus e a todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento”. (GENESIS, cap. 1, ver. 29-30).

O rei Gilgamesh, sabendo da existência de Enkidu, incube uma missão a uma das prostitutas sagradas do templo da deusa Ishtar (deusa do amor e da fertilidade): seduzir Enkidu e trazê-lo para dentro das muralhas de Uruk. Enkidu deixou-se seduzir pela rameira e perdeu sua inocência, além de seu poder selvagem, tornando-se conhecedor da malícia do homem. Arrependido, lamenta-se, mas a rameira consola-o enfatizando as vantagens desta nova vida que está por vir:

“Enkidu perdera sua força pois agora tinha o conhecimento dentro de si, e os pensamentos do homem ocupavam seu coração”.(SANDARS, 1992, p. 96).

“Olho para ti e vejo que agora és como um deus. Por que anseias por voltar a correr pelos campos como as feras do mato?” (SANDARS, 1992, p. 99).

“Porque Deus sabe que no dia em que comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.” (GENESIS, cap. 2, ver. 5).

Nesta comparação com a tentação no Éden, não identificamos diretamente os fatos, mas sim, as idéias. A prostituta sagrada, condenada também em outros livros da bíblia, pode ser compilada como o fruto proibido, a serpente e a própria Eva, com o poder de seduzir o homem e tirar sua inocência com falsas promessas.

Representação de Gilgamesh e Enkidu
Enkidu, já na cidade de Uruk, enfrenta o rei Gilgamesh em combate. Vencendo-o, é reconhecido pelo rei como irmão, pois este jamais havia enfrentado alguém com tamanha força. Formando-se então uma grande amizade que protagoniza grandes aventuras e tragédias ao longo da epopéia.

Gilgamesh e Enkidu partiram então para a floresta de cedros (provavelmente, o atual Líbano), onde enfrentaram o monstro Humbaba, a sentinela da floresta.

Este se irrita com Enkidu, por profanar a floresta sagrada dos cedros inferiorizando-o e humilhando-o com palavras semelhantes às palavras de Deus, ao condenar o homem por comer do fruto proibido. Novamente não vemos relação direta entre os fatos, mas uma linha comum de pensamento é verificada entre os textos onde, a profanação e a desobediência são punidas com a servidão:

“… tu, um mercenário, que depende do trabalho para obter teu pão!” (SANDARS, 1992, p. 119).

“… maldita é a terra por tua causa: em fadigas obterás dela o sustento durante os dias da tua vida”.(GENESIS, cap. 3, ver. 16).

“No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado”.(GENESIS, cap. 3, ver. 19).

Os heróis, com a ajuda de Shamash (deus sol, protetor de Gilgamesh), matam o monstro Humbaba cortando-lhe a cabeça. Fato que irritou o poderoso Enlil (deus da terra, do vento e do ar universal), que exigiu a vida de um dos heróis pelo insulto.

A deusa Ishtar, vendo a força e beleza do herói, apaixona-se por Gilgamesh que a despreza, provocando a cólera da deusa. Então, Ishtar enviou a terra, um monstro com a missão de destruir o herói: o Touro Celeste. Mas a dupla de heróis novamente é vitoriosa. Então, Enkidu zomba da deusa derrotada atirando-lhe pedaços do touro mutilado. Enlil enfurecido com a atitude do mortal decide enfim qual dos dois heróis deverá morrer. Enkidu então adoece e, sucumbindo à doença, impulsiona o rei Gilgamesh a sua missão final: a busca da imortalidade.

A primeira semelhança encontrada pelos tradutores das tábuas em escrita cuneiforme é a mais impressionante. Foi a mola propulsora de toda a discussão sobre a veracidade dos textos bíblicos, pois a descrição do dilúvio não só é a mais bem conservada tábua de toda a epopéia, mas a mais rica em detalhes e semelhanças com a descrição no Gênesis. Além de que, outras narrativas do dilúvio foram encontradas em forma de poemas isolados e com outros personagens, como as tábuas de Atra-Hasis, a Epopéia de Erra, e os textos do rei Ziusudra9.


Na epopéia, Gilgamesh parte em busca da imortalidade, e para isso, precisa obter este segredo dos deuses com o imortal Utnapishtim (Noé do Gênesis). Para encontrar o imortal, Gilgamesh enfrentou uma longa jornada, cheia de perigos e provações. Ao encontrar Utnapishtim, ouve que este não poderá lhe tornar imortal, mas poderá revelar ao herói como se tornara um e conta do dia em que os deuses, desgostosos com a sua criação (a humanidade), resolveram eliminá-la da terra:

“Naqueles dias a terra fervilhava, os homens multiplicavam-se e o mundo bramia como um touro selvagem. Este tumulto despertou o grande deus. Enlil ouviu o alvoroço e disse aos deuses reunidos em conselho: ‘O alvoroço dos humanos é intolerável, e o sono já não é mais possível por causa da balbúrdia.’ Os deuses então concordaram em exterminar a raça humana”.(SANDARS, 1992, p. 149).

“Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra, e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração”.(GENESIS, cap. 6, ver. 5).

“A terra estava corrompida à vista de Deus, e cheia de violência”.(GENESIS, cap. 6, ver 11).

“Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis, e as aves do céu; porque me arrependo de os haver feito”.(GENESIS, cap. 6, ver 7).

Ea (deus da água doce e da sabedoria, patrono das artes e protetor da humanidade), avisa Utnapishtim em um sonho das intenções de Enlil e orienta-o de como sobreviver à catástrofe que estaria por vir:

“... põe abaixo tua casa e constrói um barco. Abandona tuas posses e busca tua vida preservar; despreza os bens materiais e busca tua alma salvar. Põe abaixo tua casa, eu te digo, e constrói um barco. Eis as medidas da embarcação que deverás construir: que a boca extrema da nave tenha o mesmo tamanho que seu comprimento, que seu convés seja coberto, tal como a abóbada celeste cobre o abismo; leva então para o barco a semente de todas as criaturas vivas. (...) Eu carreguei o interior da nave com tudo o que eu tinha de ouro e de coisas vivas: minha família, meus parentes, os animais do campo – os domesticados e os selvagens – e todos os artesãos”.(SANDARS, 1992, p. 149-151).

“Faze uma arca de tábuas de cipreste; nela farás compartimentos, e a calafetarás com betume por dentro e por fora. Deste modo a farás: de trezentos côvados será o comprimento, de cinqüenta a largura, e a altura de trinta. Farás ao seu redor uma abertura de um côvado de alto; a porta da arca colocarás lateralmente; farás pavimentos na arca: um em baixo, um segundo e um terceiro”. (GENESIS, cap. 6, ver 14-16).

“… entrarás na arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos. De tudo o que vive, de toda carne, dois de cada espécie, macho e fêmea, farás entrar na arca, para os conservares contigo”.(GENESIS, cap. 6, ver. 18).

Enlil então envia uma tempestade de grandiosas proporções, fazendo com que toda a terra desaparecesse sobre as águas:

“Caiu a noite e o cavaleiro da tempestade mandou a chuva.(...) Por seis dias e seis noites os ventos sopraram; enxurradas, inundações e torrentes assolaram o mundo; a tempestade e o dilúvio explodiam em fúria como dois exércitos em guerra.” (SANDARS, 1992, p. 151-153).

“… nesse dia romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as portas do céu se abriram, e houve copiosa chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites”.(GENESIS, cap. 7, ver. 11-12).

E toda a humanidade foi exterminada:

“… agora eles (humanos) flutuam no oceano como ovas de peixe”. (SANDARS, 1992, p. 152).

“Assim foram exterminados todos os serem que havia sobre a face da terra …” (GENESIS, cap. 7, ver. 23).

Com o passar dos dias, a tempestade ameniza-se e o dilúvio começa a serenar:

“Na alvorada do sétimo dia o temporal vindo do sul amainou; os mares se acalmaram, o dilúvio serenou”.(SANDARS, 1992, p. 153).

“Deus fez soprar um vento sobre a terra e baixaram as águas. Fecharam-se as fontes do abismo e também as comportas dos céus, e a copiosa chuva do céu se deteve”. (GENESIS, cap. 8, ver. 1-2).

Após a calmaria do grande oceano que se formara, Utnapishtim solta uma pomba para ver se há terra firme para que então possa desembarcar:

“Na alvorada do sétimo dia eu soltei uma pomba e deixei que se fosse. Ela voou para longe; mas, não encontrando lugar para pousar, retornou. Então soltei uma andorinha, que voou para longe; mas, não encontrando lugar para pousar, retornou. Então soltei um corvo. A ave viu que as águas haviam abaixado; ela comeu, voou de uma lado para outro, grasnou e não mais voltou para o barco”.(SANDARS, 1992, p. 153).

“Ao cabo de quarenta dias, abriu Noé a janela que fizera na arca, e soltou um corvo, o qual, tendo saído, ia e voltava, até que se secaram as águas sobre a terra. Depois soltou uma pomba para ver se as águas teriam já minguado da superfície da terra; mas a pomba, não achando onde pousar o pé, tornou a ele para a arca; porque as águas cobriam ainda a terra. Noé, estendendo a mão, tomou-a e a recolheu consigo na arca. Esperou ainda outros sete dias, e de novo soltou a pomba for a da arca. A tarde ela voltou a ele; trazia no bico uma folha nova de oliveira; assim entendeu Noé que as águas tinham minguado de sobre a terra. Então esperou ainda mais sete dias, e soltou a pomba; ela, porém, já não tornou a ele”.(GENESIS, cap. 8, ver. 6-12).

Após a bonança, já em terra firme e grato ao deus Ea por ter lhe salvo a vida, Utnapishtim prepara um sacrifício aos deuses:

“Eu então abri todas as portas e janelas, expondo a nave aos quatro ventos. Preparei um sacrifício e derramei vinho sobre o topo da montanha em oferenda aos deuses”.(SANDARS, 1992, p. 153).

“Então Noé removeu a cobertura da arca, e olhou, e eis que o solo estava enxuto”.(GENESIS, cap. 8, ver 13).

“Levantou Noé um altar ao Senhor, e, tomando de animais limpos e de aves limpas, ofereceu holocaustos sobre o altar”.(GENESIS, cap 9, ver 20).

Enlil, furioso com Ea por ter permitido que um humano sobrevivesse e conhecendo o segredo dos deuses, viu-se sem alternativa que não a de transformar Utnapishtim em um imortal, para que sua maldição de que nenhum mortal sobrevivesse se completasse.

Gilgamesh desapontado por não ter tido sucesso em busca da imortalidade, prepara seu retorno para Uruk, mas é abordado pela esposa de Utnapishtim que, compadecida com o fracasso do herói, revela-lhe o segredo da imortalidade em que, nas profundezas do mar, havia uma planta maravilhosa, e quem a comesse, seria eternamente jovem. O herói então mergulha no mar profundo, ferindo-se, mas obtendo a tão desejado segredo.

Tomado de rara compaixão, Gilgamesh decide não comer sozinho o maravilhoso fruto, mas sim dividi-lo com os anciãos da cidade de Uruk. No retorno para casa, Gilgamesh é surpreendido por uma serpente marinha que lhe rouba a flor, perdendo para sempre o segredo da imortalidade:

“Se conseguires pegá-la (a planta sagrada), terás então em teu poder aquilo que restaura ao homem sua juventude perdida. (…) Vem ver esta maravilhosa planta. Suas virtudes podem devolver ao homem toda a sua força perdida. (...) mas nas profundezas do poço havia uma serpente, e a serpente sentiu o doce cheiro que emanava da flor. Ela saiu da água e a arrebatou”.(SANDARS, 1992, p. 160).

Apesar dos fins da ação de comer o fruto sejam diferentes (a morte e a imortalidade), podemos fazer uma analogia da função da serpente em roubar a imortalidade do homem: sendo tirando-lhe a oportunidade da vida eterna pela sua obtenção, como na Epopéia de Gilgamesh; sendo condenando-lhe a morte pela cessão do fruto ao homem, como no livro do Gênesis. Gilgamesh então ficou desolado e abatido, pois além de fracassar em sua missão, perdera para sempre o irmão Enkidu, restando-lhe apenas, melancolicamente esperar o dia de sua morte chegar.

No livro do Gênesis, não encontramos somente semelhanças com a Epopéia de Gilgamesh, mas com outros textos antigos, como o sumeriano Mito de Dilmum onde o deus Enki, o senhor das águas profundas e do abismo que suporta a terra; e Nintu, a virgem pura, deusa que presidia aos partos; habitavam sozinhos num mundo cheio de delícias sem que nada existisse além do par divino, caracterizando uma descrição muito semelhante do que seria e onde seria o jardim Éden:

“E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, da banda do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado. (...) E saía um rio do Éden para regar o jardim, e dali se dividia, repartindo-se em quatro braços. (...) O nome do terceiro rio é Tigre; é o que corre pelo oriente da Assíria. E o quarto é o Eufrates”. (GENESIS, cap. 2, ver. 8-14).

5. Considerações finais.

É impossível afirmar a influência direta da Epopéia de Gilgamesh sobre a escrita do livro do Gênesis, pois tanto um como o outro poderiam ter sido influenciados por histórias ainda mais antigas e difundidas no Oriente, ao mesmo tempo em que é inegável que o mundo situado entre o Mediterrâneo e os Montes Zargos, onde havia intensa circulação de mercadores de diferentes etnias e religiões variadas, era pequeno demais para descartar qualquer influência cultural entre eles.

Os hebreus, possivelmente muito antes de seus períodos de cativeiro na Babilônia e Assíria, já tiveram contato com as lendas e mitos sumério-acadianos e que por várias razões, os utilizaram na formulação de suas próprias lendas, o que sugere que seu deus, Jeová, toma por empréstimo características de deuses como Anu, Enlil e Ea, seja criando a terra e o homem, seja julgando-os por seus atos, seja compadecendo-se de seu povo e os protegendo.

Acreditamos ser impossível obter conclusões definitivas sobre as influências de um texto sobre o outro, ou principalmente, da formação de um pensamento religioso sem a existência do pensamento antecessor, sem que se faça juízo de valores como é recomendado a um historiador, mas ao se estudar o contexto em que o Gênesis é idealizado e escrito, tomando aqui, palavras de Finkelstein e Silberman, observa-se que "a saga histórica contida na Bíblia (...) não foi uma revelação miraculosa, mas um brilhante produto da imaginação humana”.10

Notas

Eric Thomas Follmann
Núcleo de Estudos Históricos e Arqueológicos UNIANDRADE
www.klepsidra.net

(1)SANDARS, N. K. A epopéia de Gilgamesh. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 11-12.

(2)Os 5 primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

(3)GRELOT, P. Homem quem és? São Paulo: Edições Paulinas, 1980, p. 14.

(4)CHARTIER, Roger. Textos, impressão, leituras. In: HUNT, Lynn. A nova história cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 211-238.

(5)FINKELSTEIN, Israel; SILBERMAN, Neil Asher. The Bible Unearthed. Archaeology's New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts. New York: The Free Press, 2001, p. 38.

(6)TIGAY, Jeffrey. On the evolution of the Gilgamesh epic. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1982, p. 11.

(7)ZILBERMAN, Regina. Nos princípios da epopéia: Gilgamesh. In: BAKOS, Margaret Marchiori; POZZER, Katia Maria Paim. JORNADA DE ESTUDOS DO ORIENTE ANTIGO: LÍNGUAS ESCRITAS E IMAGINÁRIAS, 3., 1997, Porto Alegre. Anais ... trabalho 4. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 58.

(8)BOUZON, Emanuel. Ensaios babilônicos: sociedade, economia e cultura na Babilônia pré-cristã. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 126.

(9)CHARPIN, Dominique. El mundo de la biblia: Mesopotamia y la biblia. Valencia: EDICEP, 1984, p. 9.

(10)FINKELSTEIN; SILBERMAN. The Bible ... 2001. p. 13.

Referências Bibliográficas

BÍBLIA, V. T. Gênesis. Português. A bíblia sagrada. Tradução João Ferreira de Almeida. Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969. Cap. 1-9.

BÍBLIA, V. T. Gênesis. Português. A bíblia de Jerusalém. Tradução Theodoro Henrique Maurer Jr.. São Paulo: Edições Paulinas, 1985. Cap. 1-9.

BOUZON, Emanuel. Ensaios babilônicos: sociedade, economia e cultura na Babilônia pré-cristã. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998.

CHARPIN, Dominique. El mundo de la biblia: Mesopotamia y la biblia. Valencia: EDICEP, 1984.

CHARTIER, Roger. Textos, impressão, leituras. In: HUNT, Lynn. A nova história cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

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Referências Eletrônicas

http://iraqipages.com/

CLOUGH, Brenda W. A short discussion of the influence of the Gilgamesh Epic on the bible. Disponível em http://www.sff.net/people/Brenda/gilgam.htm, 1999. Acesso em: 27 jul. 2003.

CORREA, Maria Isabelle Palma Gomes. Mitos Cosmogônicos: Suméria e Babilônia. Disponível em http://www.galeon.com/projetochronos/chronosantiga/isabelle/Sum_indx.html, 200-. Acesso em: 18 ago. 2003.

LOPES, Fabiano Luis Bueno. Exílio e retorno dos judeus na Babilônia. Disponível em http://www.galeon.com/projetochronos/chronosantiga/fabiano/fab_ind.htm, 200-. Acesso em: 18 ago. 2003.

SUBLETT, Kenneth. Epic of Gilgamesh. Disponível em http://www.piney.com, 2003. Acesso em: 27 jul. 2003.