sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O GRAAL - Mitos e Lendas


O mito do Santo Graal refere-se, na maior parte das vezes, ao cálice da Última Ceia. Mas as inúmeras lendas criadas em menos de um milênio já descreveram o artefato como a tigela em que Jesus teria cortado o pão na mesma celebração.


Em outros escritos, o Graal seria o prato em que um seguidor chamado José de Arimatéia teria recolhido o sangue de Jesus crucificado, ou uma esmeralda caída da coroa de Lúcifer quando este foi expulso do céu pelo arcanjo São Miguel.


Há ainda autores que até acrescentaram elementos da mitologia pagã celta para criar sua própria lenda sobre o Graal.

O poderoso artefato cristão já foi retratado de muitas formas e sua história alimenta a imaginação das pessoas há quase mil anos.


As mais antigas sementes da lenda do Graal estão na Bíblia, embora em nenhum momento o termo seja usado.

A taça da Última Ceia, por exemplo, é mencionada nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas.


O Evangelho de Nicodemos, escrito no fim do século 4, dá mais detalhes sobre como José de Arimatéia, teria recolhido o sangue de Jesus crucificado em um prato e também retirado o corpo dele da cruz e dado ao morto um enterro digno.


O Evangelho de Nicodemos narra ainda como um soldado romano, de nome Longino, teria perfurado o tórax de Jesus com uma lança (episódio descrito de forma mais breve no Novo Testamento).


Esse livro apócrifo ajudou a estruturar a lenda do Graal. Como veremos a seguir, a lança de Longino é um dos objetos que “acompanham” o objeto sagrado nas histórias escritas na Idade Média.


No meio desse monte de histórias, o que se sabe ao certo é que o mito do Santo Graal foi criado por volta de 1180 por um francês chamado Chrétien de Troyes.Ele foi o primeiro a escrever sobre o artefato que chamou de “graal”, palavra que designava um tipo específico de utensílio de mesa que, até então, não possuía qualquer conotação sagrada.


Mais: incorporou o objeto à lenda dos cavaleiros.A pioneira dessas histórias, um poema inacabado de Chrétien de Troyes, levava o nome de Percival ou O Conto do Graal.

A obra de Chrétien (coincidência ou não, o nome quer dizer “cristão” em francês) já era um sucesso de público e crítica quando ele começou a trabalhar na nova história entre outras coisas, ele já havia escrito um livro com as aventuras de sir Lancelote na Távola Redonda.


A ambientação do novo livro retomava a famosa corte do lendário rei Arthur e as aventuras vividas por seus cavaleiros.


Ao enviuvar, a mãe do herói Percival decidiu criar o filho longe da civilização, de forma que o rapaz se tornou uma espécie de “bom selvagem”, com dificuldade de entender como a sociedade funcionava.


Percival acabou encontrando alguns cavaleiros de Artur na floresta e ficou tão fascinado com eles que decidiu tornar-se um também.

A mãe o deixou partir, ele arranjou um mentor e, depois de treinado, saiu pelo mundo em busca de aventuras.


Em dado momento, chegou ao castelo de um tal Rei Pescador, que o convidou a se hospedar lá.

Percival acabou presenciando o que Chrétien chamou de “procissão do Graal”: pessoas carregando uma lança de cuja ponta caem gotas de sangue, candelabros e, finalmente, “um graal".


No poema, o Graal transportava uma hóstia, levada até o pai do Rei Pescador, que se encontrava gravemente ferido.


A partir daí, as coisas ficam cada vez mais misteriosas.

Percival ficou intrigado com a procissão do Graal, mas não perguntou ao seu anfitrião o significado de tudo aquilo, pois seu mentor ensinara que um cavaleiro não deveria ser indiscreto.


Só que o jovem nobre aparentemente é punido por ter ficado de boca fechada: acordou sozinho no dia seguinte e o castelo estava misteriosamente vazio.Percival vagou por algum tempo, até perder a memória.


Finalmente, foi socorrido por um eremita, que explicou (bem, mais ou menos) o que estava acontecendo.


O sujeito disse que tanto ele quanto o pai do Rei Pescador eram tios maternos de Percival. Também afirmou que o Graal era “uma coisa muito santa” (tante sainte chose, em francês da época) e que, se Percival tivesse perguntado o significado da misteriosa cerimônia no castelo, teria evitado muitas desgraças.


Percival, por ter sido criado longe de tudo, não tem a justa medida das coisas e confunde a necessidade de ser discreto com ficar totalmente calado”.“Mas a referência ao Graal como "tante sainte chose" abriu um mundo de possibilidades para os escritores que vieram depois.”




Ninguém sabe ao certo como Chrétien pretendia terminar sua história, mas o fato é que, apenas meio século após a morte do autor, haviam surgido nada menos que 18 continuações, prólogos ou novas versões da história do Graal.


O mito só fez crescer – e adquirir características completamente distintas – em meio a todos esses textos.

Escritores que vieram depois de Chrétien, como Robert de Boron e o autor anônimo de A Demanda do Santo Graal, fizeram uma espécie de equação entre a lança que sangra (um bocado parecida com a lança de Longino, aquela do Evangelho de Nicodemos) e o Graal que carrega a hóstia.

E concluíram que, na verdade, o recipiente só podia ser o prato (ou o cálice) sagrado.


Assim, os sucessores de Chrétien conseguiram uma façanha inédita: juntaram a famosa saga da lendária corte do rei Artur, a mais popular da época, com o lado religioso e místico que também encantava o público medieval.


A mais famosa destas histórias envolveu criar um novo herói da Távola Redonda: surgiu então Galahad, filho de Lancelote, um jovem cavaleiro casto e puro.


Na maioria dos casos, Galahad, Percival e Bors (outro cavaleiro da corte de Artur), juntos, comprometem-se a encontrar o Graal para curar o pai do Rei Pescador e o próprio rei (que se machuca em versões posteriores do conto) e para atingir a iluminação.


Por um lado, a lenda parece ter crescido incorporando alguns elementos das antigas mitologias pagãs européias, em especial a celta.


Quando o Graal aparece misteriosamente, nos novos contos pós-Chrétien, é capaz de alimentar todos à sua volta com os pratos mais saborosos.


"O chamado caldeirão da abundância de alguns deuses celtas também era capaz disso"

No entanto, a simbologia mais forte das histórias do Graal está mesmo diretamente ligada à idéia de que a hóstia e o vinho transformam-se no corpo e no sangue de Jesus, conhecida como Eucaristia.


Na versão de A Demanda do Santo Graal, Galahad e seus companheiros, quando finalmente acham o misterioso artefato, são recepcionados numa missa celebrada pelo bispo Josefo, filho de José de Arimatéia.


Quando Josefo ergue a hóstia consagrada, eles vêem o corpo de um bebê que representa Jesus. Galahad morre depois de contemplar os mistérios do Graal, e o cálice volta ao céu junto com a alma do cavaleiro.


Muitas seitas esotéricas passaram a adotar o Graal como objeto de estudo.
Os membros da Ordem da Aurora Dourada, por exemplo, acreditavam que as histórias do Santo Graal eram uma espécie de mensagem em código sobre “os verdadeiros segredos místicos” da fé cristã.


A versão mais recente desse fenômeno é a teoria dos escritores Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln exposta em O Santo Graal e a Linhagem Sagrada. Segundo o livro, o San Greal, usado por autores franceses medievais em referência ao Graal, na verdade é uma corruptela de sang real, “sangue real” em francês antigo. Os autores vão mais longe: esse seria o sangue dos supostos descendentes que Jesus teria tido com Maria Madalena.


ALINE SANTOS É Jornalista, Terapeuta Holística, Taróloga, Cabalista, Professora, Escritora, Palestrante, e atende nas áreas de Florais de Bach, Fitoterapia, Aromaterapia, Terapia com cristais, Reiki, Cura Prânica e Tarô Terapêutico.

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